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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

QUEDA DA DESNUTRIÇÃO REDUZ DESIGUALDADES REGIONAIS

Pesquisa divulgada pelo IBGE confirma avanços expressivos na desnutrição, mas alerta para crescimento acelerado da obesidade.

O Ministério da Saúde comemorou os números divulgados pelo IBGE que revelam a diminuição acentuada da desnutrição em todas as faixas de renda e em todas as regiões do país. De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009), financiada pelo ministério e divulgada pelo IBGE, o Nordeste é o território que mais reduziu os índices de desnutrição infantil, alcançando percentuais próximos aos do Sudeste e aos do Centro Oeste, que historicamente apresentavam índices menores.

Caso a tendência seja mantida, o problema da desnutrição crônica, que é medida pelo déficit de altura em crianças, será superado na próxima década. “A desnutrição despenca rapidamente no país graças aos programas sociais e à atuação do Saúde da Família para orientar padrões alimentares”, afirmou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, no lançamento dos resultados da pesquisa. “O recente Congresso Mundial de Obesidade, que reuniu os maiores especialistas da Europa nesta área, apontou dois países que estão na vanguarda de políticas para o enfrentamento dessa situação: Inglaterra e Brasil”, completou.

O excepcional declínio do problema da desnutrição nesta década está associado às melhorias observadas no poder aquisitivo das famílias de menor renda, com a valorização do salário mínimo e à complementação da renda; ao aumento da escolaridade das mães; à universalização do ensino fundamental e à ampliação da cobertura de serviços básicos de saúde e saneamento. Porém, os resultados da POF reforçam alerta sobre uma das principais preocupações com relação à saúde da população: o acelerado crescimento da obesidade em todas as faixas etárias.

A população brasileira melhorou muito em relação à desnutrição e ao déficit de altura. Mas, por outro lado, está engordando, fazendo pouca atividade física, está mudando o padrão alimentar de forma inadequada, o que acende a luz vermelha”, destacou Temporão. Segundo a POF, metade da população adulta está acima do peso considerado ideal. O desequilíbrio entre ingestão e utilização de calorias revela uma mudança nos padrões de alimentação dos brasileiros, que estão substituindo alimentos tradicionais por industrializados. As famílias estão gastando mais com refeições fora de casa, incluindo as chamadas fast food (comida rápida), comidas gordurosas. Tem menos feijão no prato do brasileiro, menos saladas, o que acaba contribuindo com o excesso de peso dos brasileiros/, observou o ministro.

Atento a esse cenário, o governo federal vem promovendo medidas voltadas à promoção da alimentação saudável no Brasil com forma de reverter este quadro. Esta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou decreto que instituiu a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional para articular e integrar as diversas ações desenvolvidas pelos ministérios; entre eles, o da Saúde. O objetivo da Política é estimular o consumo de alimentos saudáveis e água. O Programa Nacional de Alimentação Escolar do Ministério da Saúde é parte dessa política e funciona integrado à produção local de alimentos e à agricultura familiar, que fornece frutas, legumes e verduras usados na merenda escolar.

AÇÕES – Por meio da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), o Ministério da Saúde desenvolve diferentes medidas para a promoção da alimentação saudável no país. “O Brasil tem que qualificar, aperfeiçoar e trabalhar de maneira mais radical as políticas de governo que envolvam toda a sociedade no enfrentamento deste grande problema de saúde pública”, alertou Temporão.

Em todo o país, 12 mil unidades básicas de saúde oferecem o serviço de vigilância nutricional. Além disso, os Núcleos de Apoio à Saúde da Família contam com profissionais de nutrição e educação física aptos a orientar os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).

Outra importante iniciativa para o combate à obesidade foi o acordo estabelecido, em dezembro de 2008, entre o Ministério da Saúde e a indústria de alimentos para a redução dos níveis de gordura, sal e açúcar dos produtos oferecidos no mercado. A medida permitiu a eliminação de gorduras trans dos alimentos processados.

O Ministério da Saúde também lançou em 2006 o Guia Alimentar para a População Brasileira. Trata-se da primeira vez que foi lançada uma orientação oficial para gestores, profissionais de saúde e população sobre alimentação saudável. Ainda, nutricionistas foram inseridos no apoio às equipes de saúde da família, com a criação do Núcleo de Apoio ao Saúde da Família (Nasf). Atualmente 1.132 unidades do Nasf estão habilitadas em todo o país. Além disso, por meio do Saúde na Escola, leva orientação à estudantes.

EXCESSO DE PESO – De acordo com o estudo do IBGE, o excesso de peso entre os homens acima dos 20 anos ultrapassa metade da população em três regiões do país: Sul (56%) e o Sudeste (52,4%) e o Centro Oeste (51%). Enquanto o excesso de peso entre as mulheres ultrapassa a metade da população apenas na região Sul (51,6%).

A tendência é a mesma também entre os adolescentes, apesar do ritmo de crescimento ser menor que entre os adultos. Entre o sexo masculino, a taxa de excesso de peso era de 16,7% na POF de 2003 e passou para 21,7% na pesquisa atual, enquanto que entre o sexo feminino esse número passou de 15,1% para 19,4%.

DESNUTRIÇÃO INFANTIL – Segundo a POF 2008-2009, em duas décadas, o Nordeste teve uma redução de mais de três vezes nos índices de desnutrição em crianças de cinco a nove anos. Antes, 24,5% dos meninos e 23,6% das meninas tinham déficit de altura, hoje os números são de 7,9% e de 6,9% para cada um dos sexos.

A POF demonstra que diminuíram as desigualdades sociais relacionadas ao déficit de altura em crianças. Há 20 anos, a diferença entre a menor e a maior classe de renda era de nove vezes na faixa etária de cinco a nove anos. Atualmente, essa razão entre os 20% mais pobres e os 20% mais ricos (seguindo os mesmos parâmetros) é de três vezes.

Em 2008, a pesquisa “Saúde Brasil” do Ministério da Saúde já mostrava que mostrou que a ampliação do acesso à alimentação estava contribuindo para o aumento da estatura das crianças brasileiras. O estudo revelou que o que o déficit de altura nas meninas menores de cinco anos, um dos principais indicadores de desnutrição, caiu 85% de 1974 a 2007. Entre os meninos, a redução foi de 77% no mesmo período.

SAÚDE DO ESCOLAR – Nesta sexta-feira (27), o IBGE também divulgou a segunda parte da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE). De acordo com o estudo, a maioria dos adolescentes brasileiros apresenta estado nutricional adequado, com peso e altura compatíveis – 74%. A PeNSE mostra que 23,2% dos estudantes estão acima do peso e 2,9%, abaixo. Foram colhidos os dados antropométricos de quase 59 mil alunos de 13 a 15 anos.

Para este grupo populacional, o Ministério da Saúde promove – por meio do Programa Saúde na Escola (PSE) – ações educativas junto a alunos, pais e professores, inclusive, com distribuição de material didático para orientar ações nas escolas. A parceria leva profissionais das Equipes de Saúde da Família (ESF) para dentro das salas de aula.

As equipes também fazem a vigilância nutricional de toda a população, inclusive àquelas beneficiadas pelo Bolsa Família. O monitoramento do estado nutricional da população fez com que o Ministério da Saúde passasse a fornecer suplementos alimentares às famílias atendidas pelos dois programas (Saúde da Família e Bolsa Família), como ferro, ácido fólico e vitamina A.

Além do PSE, o ministério coordena outras iniciativas voltadas à prevenção do excesso de peso. A Rede Nacional de Promoção de Saúde é uma dessas medidas, empreendida pelo governo em 2006 e que, atualmente, é integrada por 1,5 mil municípios. “Essas cidades recebem investimento federal para elaborar e manter projetos esportivos ou lúdicos que motivam as pessoas a se movimentar, incluindo adolescentes”, explica o ministro Temporão. No decorrer deste ano, R$ 56 milhões serão repassados aos municípios para que eles apliquem os recursos em ações dessa natureza. De 2006 a 2009, o investimento para as secretarias municipais que compõem a Rede Nacional de Promoção de Saúde foi de R$ 122,4 milhões.

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